quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Autoridade


Dietrich Bonhoeffer

"aquele que quiser ser o primeiro dentre vós, seja o vosso servidor" (Marcos 10.43). Cristo ligou toda a autoridade na comunhão ao serviço fraternal. Autoridade espiritual autêntica só existe onde é cumprido o serviço de ouvir, servir, carregar e pregar. Todo culto a uma pessoa, abrangendo qualidades excepcionais, capacidades, poderes e talentos extraordinários − ainda que sejam de ordem espiritual − é mundano e não tem lugar na comunhão cristã, antes a envenena.

O tão freqüente anseio de nossos dias por "figuras episcopais", "pessoas sacerdotais", "personalidades com autoridade" nasce, não raro, da necessidade espiritual mórbida de admirar seres humanos, de estabelecer autoridade humana visível, porque a autêntica autoridade do servir parece pequena demais. Nada se opõe a esse anseio com tanto rigor como o próprio Novo Testamento, mesmo ao descrever o bispo (1 Timóteo 3.2ss). Nada encontramos aqui do encanto de talentos humanos, das brilhantes qualidades de uma personalidade espiritual. O bispo nada mais é do que o homem simples e fiel, sadio na fé e na vida, e que se desincumbe de forma correta de seu serviço.

Não há o que admirar no homem em si. O desejo por autoridade falsa, em última análise, nada mais quer do erigir novamente na Igreja o imediatismo, a dependência de homens. A autoridade autêntica, porém, sabe que o imediatismo é desastroso justamente em questões de autoridade, e que ele só pode persistir no serviço daquele que tem toda a autoridade. Autoridade autêntica sabe-se sujeitar à palavra de Jesus, no sentido rigoroso: "Quanto a vós, não permitais que vos chamem de 'Rabi', pois um só é vosso Mestre e todos vós sois irmãos" (Mateus 23.8). Não é de personalidades brilhantes que uma comunidade precisa, mas de fiéis servidores de Jesus e dos irmãos. Também não lhe falta aqueles, mas estes. A comunidade confiará somente no singelo servo da Palavra de Jesus, porque sabe que assim está sendo conduzida não por sabedoria ou arbitrariedade humana, mas pela Palavra do Bom Pastor.

A questão da confiança espiritual, tão intimamente ligada à questão da autoridade, decide-se na fidelidade com que alguém cumpre o serviço de Jesus Cristo, e não nas qualidades extraordinárias de que dispõe. Autoridade poimênica só encontrará aquele servo de Jesus que não busca autoridade própria, mas que, sujeito à autoridade da Palavra, é um irmão entre irmãos.


Fonte: Vida em Comunhão, Editora Sinodal, pgs. 84 e 85 - Via Urro do Leão

Nenhum comentário: